A Black Friday, consolidada globalmente como uma das principais datas para promoções, é marcada por promessas de grandes descontos e, frequentemente, pelo tão atraente “frete grátis”.
Essa prática, especialmente no e-commerce, incentiva o consumo, levando os clientes a adicionarem mais produtos ao carrinho para atingir o valor mínimo necessário para aproveitar o frete sem custo adicional.
No entanto, enquanto o frete grátis é um recurso comum no comércio eletrônico, que ajuda a impulsionar vendas ao disfarçar o custo do envio no preço do produto, essa prática se torna inviável no contexto do transporte internacional.
Diferentemente de uma simples transação de e-commerce, o frete no comércio internacional é o produto em si, o que torna complexa e insustentável a promessa de frete gratuito em operações logísticas internacionais.
No comércio exterior, o conceito de frete gratuito é, essencialmente, impraticável. A razão fundamental para isso é que, ao contrário do varejo online, o frete em transações internacionais representa o núcleo do serviço logístico, e não uma extensão da compra.
Quando um e-commerce oferece frete grátis, o valor desse serviço está embutido no preço dos produtos, permitindo que a empresa ofereça a “gratuidade” de forma indireta.
Entretanto, na logística internacional,
o frete é o produto vendido, e os custos dessa operação são altos, variáveis e diretamente influenciados por fatores como distâncias continentais, regulamentações alfandegárias, tarifas de combustível, e taxas portuárias.
No setor de transporte internacional, algumas empresas ainda anunciam o “frete grátis” como uma estratégia de marketing, mas na realidade
esse custo não é anulado, apenas redistribuído.
Ou seja, o valor do frete “gratuito” recai sobre outro fator, seja ele a adição de encargos no final da transação ou até mesmo a absorção parcial de custos pela própria empresa que vendeu o frete, prática que pode levar a sérias implicações financeiras e operacionais.
O comércio exterior envolve uma série de custos complexos e inevitáveis que tornam o frete grátis uma promessa arriscada e financeiramente insustentável.
Um dos principais elementos que influencia o valor do
frete internacional é o
combustível, um custo que oscila de acordo com as condições econômicas e políticas globais e que afeta diretamente o valor final do frete.
Outro ponto crítico são as
taxas portuárias, que variam conforme o país de destino e que, em alguns casos, representam valores significativos em transações logísticas.
Além desses, existem os custos de:
Diferentemente do frete nacional, em que os custos podem ser minimizados em certas condições, o transporte internacional demanda um planejamento logístico complexo e de longo prazo, que assegure tanto a conformidade com as regulamentações internacionais quanto a segurança e o cumprimento dos prazos de entrega.
Empresas que tentam oferecer frete grátis no comércio exterior precisam absorver esses custos, o que gera um alto risco de inviabilidade financeira e, em casos extremos, pode levar à falência da operação.
Empresas que anunciam “frete grátis” no comércio exterior correm o risco de criar uma falsa expectativa no cliente e de comprometer a própria sustentabilidade financeira.
Muitos dos armadores — as empresas que possuem e operam os navios — nunca ofereceriam frete a custo zero, uma vez que o custo do transporte marítimo é inevitável e está longe de ser flexível.
Quando agentes logísticos absorvem esse custo para tentar captar clientes, eles acabam comprometendo suas finanças, o que pode se tornar uma “bola de neve” insustentável.
Há registros de empresas no setor de comércio exterior que faliram após tentar sustentar essa prática de frete grátis. Ao acumular custos sem cobertura de receita, essas empresas começaram a operar com prejuízo, resultando em dívidas acumuladas e, em alguns casos, na interrupção completa de suas operações.
Em situações como essa, os
clientes finais também são prejudicados, pois suas cargas podem ficar retidas em portos, o que gera uma série de transtornos logísticos e financeiros, como a necessidade de pagar novamente pelo serviço de transporte para liberar a mercadoria.
Também, quando uma empresa quebra, os clientes que já haviam pago pelo transporte da mercadoria podem se ver obrigados a pagar novamente pelo serviço. Este é um efeito dominó que impacta não apenas as empresas logísticas, mas toda a cadeia de fornecimento, incluindo exportadores, importadores e demais agentes de carga.
A tentativa de oferecer frete grátis no comércio exterior, portanto, é uma prática que pode parecer vantajosa no início, mas que, ao longo do tempo, revela-se prejudicial para todas as partes envolvidas.
A ideia de frete grátis pode ser muito atrativa para consumidores no contexto do e-commerce, mas, no comércio exterior, ela não representa uma vantagem sustentável ou realista.
Em vez de focar em ilusões de gratuidade, empresas e agentes de carga devem priorizar um modelo de transparência e preço justo no transporte internacional. Compreender que o frete é um serviço com custos bem definidos e que influencia diretamente a viabilidade da operação é essencial para garantir uma logística segura e financeiramente viável.
Para empresas e agentes de carga, optar por um frete transparente e justo representa a construção de uma
relação de confiança com seus clientes, garantindo que eles compreendam o valor agregado dos serviços prestados e os custos reais que envolvem a logística internacional.
Um modelo de precificação claro evita problemas financeiros e contribui para a longevidade e reputação da empresa no setor, assegurando que tanto clientes quanto empresas estejam protegidos de promessas comerciais insustentáveis.
Assim, ao invés de buscar ofertas de “frete grátis”, os agentes de carga e seus clientes devem focar em práticas que realmente agregam valor e protegem seus investimentos.
Conhecer profundamente os Incoterms e entender os custos logísticos reais é um primeiro passo essencial para quem deseja operar no comércio exterior com segurança e sucesso.
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